Número de falantes de línguas indígenas cresce quase 50% em 12 anos

29 de outubro de 2025

Número de falantes de línguas indígenas cresce quase 50% em 12 anos

O Brasil registrou um aumento no número de falantes de línguas indígenas desde 2010. De acordo com o Censo Demográfico 2022 – Etnias e línguas indígenas, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 24 de outubro, houve um crescimento de 47,7% no número de indígenas com 5 anos ou mais que falam línguas indígenas, saindo de 293.853 para 433.980.

O aumento também atingiu os falantes que vivem fora das terras indígenas (TIs), cujo número mais que dobrou, passando de 44.590 para 96.685 pessoas. Quando se considera a faixa de idade a partir de 2 anos, o total de falantes em 2022 chega a 474.856, dos quais 78,34% residem em TIs.

O Censo identificou 295 línguas indígenas faladas nos domicílios, acima das 274 contabilizadas em 2010. As maiores concentrações de falantes estão nos estados do Amazonas (137.421), Mato Grosso do Sul (58.901) e Mato Grosso (42.511). No total, 1.990 municípios têm pelo menos um indígena com 2 anos ou mais que fala língua indígena.

Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, destacou a importância de mapear esses falantes para que os municípios possam desenvolver políticas públicas que reconheçam e oficializem essas línguas. Segundo ele, isso facilita o acesso à cidadania por meio da tradução de documentos e da presença de intérpretes em órgãos públicos.

Manaus lidera entre as capitais com a maior variedade de línguas indígenas declaradas, 99 no total, seguida por São Paulo (78) e Brasília (61). Entre os municípios fora das capitais, se destacam São Gabriel da Cachoeira (AM) com 68 línguas, Altamira (PA) com 33 e Iranduba (AM) com 31.

A língua Tikúna possui o maior número de falantes indígenas, 51.978, sendo a maioria (87,69%) residente em TIs. Em seguida, vêm Guarani Kaiowá, com 38.658 falantes (81,83% em TIs), e Guajajara, com 29.212 falantes (90,43% em TIs). O Nheengatu é a língua indígena mais frequentemente falada em áreas urbanas, com 13.070 falantes, dos quais 41,94% vivem em cidades.

Apesar do aumento absoluto, a proporção de falantes frente à população indígena total caiu, representando 28,51% em 2022, contra 37,35% em 2010. A população indígena total passou de cerca de 897 mil para aproximadamente 1,7 milhão.

No contexto fora das TIs, o número absoluto de falantes dobrou, porém a participação relativa diminuiu de 12,67% para 9,78% da população indígena fora dessas terras. Dentro das TIs, o percentual de falantes aumentou de 57,35% para 63,22% nesse período.

Damasco ressaltou que há um movimento de valorização e resgate das línguas indígenas impulsionado pelos próprios povos, refletido nos dados. Ele apontou esforços nas políticas linguísticas e na educação bilíngue como fundamentais para a preservação e fortalecimento dessas línguas.

O censo também revelou que o uso do português entre indígenas cresceu. Em 2022, 1.404.340 indígenas (86,32% da população indígena) utilizavam o português em casa, sendo 67,14% nas terras indígenas.

Mapas elaborados pelo IBGE mostram que em 98 terras indígenas houve aumento significativo de falantes de português, com variação acima de 25 pontos percentuais. Por outro lado, em 42 TIs houve redução superior a 25 pontos percentuais. Já para as línguas indígenas, 55 TIs apresentaram aumento percentual acima de 25 pontos, enquanto 27 registraram queda.

Damasco alertou para o risco de a alfabetização exclusiva em português prejudicar o uso das línguas indígenas nos domicílios. Ele defende a educação bilíngue ou realizada na língua indígena como forma de fortalecer as línguas originárias do país.

Créditos: Agência Brasil

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