Rio Grande do Norte celebra feriado dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu; saiba mais

Os massacres de Cunhaú e Uruaçu, ocorridos em 1645, nas cidades de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante, deixaram uma profunda cicatriz na fé católica do Rio Grande do Norte, resultando na brutal morte de mais de 80 fiéis, incluindo homens, mulheres e crianças.
Em 5 de março de 2000, o Papa João Paulo II proclamou a beatificação de 30 vítimas desses massacres. Posteriormente, em 2017, o Papa Francisco canonizou esses mártires, elevando-os à categoria de santos da Igreja Católica.
História
Em 1645, o estado do Rio Grande, de maioria católica, estava sob domínio dos holandeses de doutrina calvinista. Jacob Rabbi, um alemão a serviço do governo holandês, chegou ao engenho em 15 de julho daquele ano, já sendo conhecido pelos moradores locais devido a suas visitas anteriores, sempre acompanhado pelas tropas dos índios Tapuias.
No dia seguinte, como de costume, os fiéis se reuniram para celebrar a eucaristia e participar da missa na Igreja de Nossa Senhora das Candeias, presidida pelo padre André de Soveral. A cerimônia transcorria normalmente até o momento da elevação do Corpo e Sangue de Cristo, quando as portas da capela foram bruscamente fechadas, dando início à violenta ação ordenada por Jacob.
O padre Fábio Pinheiro Bezerra, pároco do Santuário dos Mártires, no bairro Nazaré, explicou que “no século XVII, com a invasão holandesa no Nordeste do Brasil, os holandeses traziam consigo a fé calvinista, uma fé protestante, fruto do luteranismo. Eles buscavam o nosso açúcar e tinham interesses econômicos, político e religioso. Chegando no engenho de Cunhaú, em Canguaretama, no dia 16 de julho, elesmataram o padre André e os fiéis daquela comunidade do Engenho de Cunhaú, porque eles não quiseram abraçar a fé calvinista, resistiram ao calvinismo”, explicou.
De acordo com o padre Fábio Pinheiro Bezerra, o segundo massacre aconteceu em Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante, no dia 3 de outro de 1645, três meses depois do ocorrido em Cunhaú, também a mando de Jacob Rabbi.
“Há relatos históricos que os católicos da antiga catedral de Nossa Senhora da Apresentação, foram levados presos para o forte dos Reis Magos e, de lá, eles foram levados de barco para as margens do rio Potengi, ali em Uruaçu, em São Gonçalo e, lá eles foram também massacrados por não abraçar a fé calvinista e dizer: ‘Nós cremos em Jesus, na Eucaristia como prega a Igreja Católica”, ressaltou.
Em homenagem a esses protomártires, o governo estadual instituiu o Dia Estadual à Memória dos Protomártires de Uruaçu e Cunhaú, em 3 de outubro, por meio da Lei nº 8.913 de 2006. Anualmente, milhares de fiéis se congregam nos monumentos construídos em honra dos Santos Mártires na cidade de São Gonçalo do Amarante para participar das celebrações litúrgicas.
Segundo o pároco do Santuário dos Mártires “é um orgulho para nós norteriograndenses sabermos que homens e mulheres do nosso potiguares, puderam dá vida por amor a Cristo e a igreja em um ato tão corajoso, que é o derramamento de sangue por abraçar fé católica e renunciar a uma outra fé. Então, isso para nós é motivo de muito orgulho”.
De acordo com o padre, é inegável que, com a canonização, os Mártires conquistaram uma maior visibilidade e alcance. Até 2017, esses santos eram venerados principalmente pelos habitantes do Rio Grande do Norte. No entanto, a partir de 15 de outubro de 2017, eles foram oficialmente reconhecidos e incorporados à devoção da Igreja Católica em todo o mundo.