NÃO ERA TROTE: há 43 anos, telefonista fazia ligação em pleno 1º de abril que salvou cidade de enchente no RN
Um açude estava próximo a romper e botar em risco famílias que moravam no entorno. Uma telefonista, com uma das raras linhas em cidades interioranas na década de 1980, então, corre para ligar e avisar a um município vizinho sobre o problema, mas tem a informação descredenciada, vista como piada. O motivo: era 1º de abril, Dia da Mentira.
O caso aconteceu em 1981 e envolveu as cidades de Campo Redondo e Santa Cruz. A telefonista Maria de Fátima da Silva precisou insistir para as autoridades entenderem que o aviso não se tratava de uma brincadeira e conseguiu evitar uma tragédia ainda maior, já que mais de 1 mil casas na região foram destruídas e mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas.
O ato dela foi considerado heroico, já que aquela situação é vista até os dias atuais como a maior enxurrada já registrada na região.
Saiba detalhes
Maria de Fátima trabalhava em uma empresa de telefonia e operava a, praticamente, única linha que existia na cidade de Campo Redondo.
Ela foi avisada por pescadores sobre o iminente rompimento do açude Mãe D’Água após fortes chuvas e ligou para a cidade vizinha, Santa Cruz, já que a água desembocaria no Rio Trairi – o açude Santa Cruz também seria afetado. Mas ninguém acreditou, achando ser um trote do Dia da Mentira.
Ao invés de desistir, ela persistiu no contato mesmo após ter o telefone ser desligado. E foi aí que alguém lhe deu crédito e decidiu passar o telefone para o Monsenhor Raimundo Barbosa, pároco da cidade na época.
“Falei com o Monsenhor Raimundo, mas ele não queria acreditar não. E eu disse: ‘pode acreditar, que é verdade’. Ele me disse que era 1º de abril, mas eu disse: ‘é verdade mesmo'”, contou Maria de Fátima, em entrevista ao portal G1 no ano de 2022.
“Eu insisti, mas eles não queriam acreditar não, porque era 1º de abril. Eles acabaram acreditando, e aí saíram avisando na rua num carro de som”, completou.
Heroína
A insistência de Maria de Fátima foi reconhecida como um ato heroico que salvou a vida de milhares de moradores de Santa Cruz.
Durante as inundações, outros problemas ainda dificultaram a comunicação, como a a energia na cidade, que caiu.
“Com essas chuvas, faltou energia aqui em Campo Redondo e ficaram gerando energia do posto da Telern (empresa operadora de telefonias no RN naquela época) com a bateria de um carro. Fizeram uma gambiarra pra ela continuar avisando”, contou o professor Daniel Medeiros, de 45 anos, que é morador do município até os dias atuais.
A telefonista chegou a ser homenageada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte quando a história completou 30 anos.
G1 RN